Tarde do dia 15 de outubro de 1964, final do Salto em Altura feminino no Estádio Olímpico de Tóquio. O sarrafo está a 1,76m do chão, duas atletas haviam superado esta marca e outras duas estavam na terceira tentativa. Quem superasse esta altura, garantiria ao menos uma medalha. Infelizmente não foi a brasileira Aida dos Santos Menezes, terminando a sua participação nesta Olimpíada na 4ª colocação com a marca de 1,74m e batendo recorde Sul-Americano. Este resultado expressivo teve grande repercussão que ecoa até os dias de hoje por dois motivos principais: única atleta feminina da delegação brasileira naquela Olimpíada e melhor resultado de uma mulher em Olimpíadas até aquela data.
Estas repercussões são registradas na forma de reportagens e homenagens, justas e merecidas principalmente pelas dificuldades enfrentadas na vida, antes e durantes estes jogos. Por isso, aqui gostaria de retratar outros aspectos poucos explorados nestas reportagens, e encontrei no artigo [2] uma excelente entrevista concedida à Martha Lenora Queiroz Copollilo. Nesta entrevista, ela conta como foi a conquista da vaga para disputa dos Jogos de 1964: participou de uma seletiva para servir como “coelho” na prova dos 200m, e aproveitou para disputar a prova do Salto em Altura. Saltou 1,65m que era justamente o índice, juntamente com a jovem de 20 anos de idade Maria da Conceição Cipriano que obteve a marca de 1,71m
Mesmo com índice olímpico, ambas tiveram que participar de outras seletivas (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) para “confirmar o índice”. Até parecia que não queriam levá-las para Olimpíadas! Chegou a última seletiva um mês antes das Olimpíadas, no Maracanã, e somente a Aida superou o índice. Assim, ficou decidido que ela iria aos jogos já que a Cipriano nunca mais alcançou índice após aquela primeira marca de 1,71m. Como menção, a Cipriano participou dos Jogos de 1968 no México, ficando na 11ª colocação com a marca de 1,71m (na qualificação ela havia saltado 1,74m).
No Campeonato Sul-Americano, Aida venceu na prova do Salto em Altura em 1961. Nas quatro edições seguintes (1963, 1965, 1967 e 1969) ela conquistou medalha de prata, sempre superada pela Cipriano. Também se destacou na prova do Pentatlo vencendo em 1969 e 1971, e medalha de prata na prova do Lançamento de Dardo em 1963, atrás apenas da chilena Marlene Ahrens que havia conquistado medalha de prata na Olimpíada de 1956. Por fim, integrou a equipe de revezamento 4x100m vencedora nas edições de 1967 e 1969.
Nos Jogos Panamericanos foi duas vezes 5ª colocada na prova do Salto em Altura (1963 e 1967) e conquistou duas medalhas de bronze na prova do Pentatlo (1967 e 1971).
Ela continuou a prática do atletismo e representou Brasil nos Campeonatos Mundiais Masters. Na sua primeira participação, em 1995, não trouxe medalha, mas em 1997 conquistou a medalhas de prata nas provas do Pentatlo e do Salto em Altura na categoria W60. Em 2007, já na categoria W70, conquista novamente medalha de prata na prova do Salto em Altura.
Foram duas participações em Olimpíadas (também esteve nos Jogos Olímpicos de 1968 na prova do Pentatlo e ficou na 20ª colocação) e um resultado extraordinário no currículo. Sempre que aproximamos das Olimpiadas, ela é lembrada em diversas reportagens por este feito e por todas as adversidades superadas em forma de homenagens, que por sinal, bem-merecida para esta grande guerreira!
Fontes:
[1] https://cbat.org.br/novo/noticias/noticia.aspx?id=30796
[2] https://periodicos.uff.br/edfisica-fluminense/article/view/47591/27375