No Troféu Brasil Masters de 2007, em Porto Alegre na pista do SOGIPA, estávamos ajustando a marca para início da prova do Salto Triplo. Neste momento, deparei-me com um sujeito simpático de sotaque castelhano, e enquanto ele ajustava sua marca percebi que o estilo e a técnica revelavam alguém com histórico atlético diferenciado. Não me lembro exatamente quais foram as minhas palavras, mas foi algo como “Que técnica refinada!”. Ele agradeceu o elogio, e me respondeu com certa nostalgia, mas com muito orgulho “Eu fui campeão Panamericano!”. Imediatamente, dois sentimentos se passaram: as minhas pernas simplesmente começaram a tremer e ao mesmo tempo tentava resgatar na minha memória quem era este sujeito!
Vinte e quatro anos antes, o jovem cubano de 20 anos Jorge Alfredo Reina Abreu conquistaria a medalha de ouro na prova do Salto Triplo nos Jogos Panamericanos de Caracas (1983) com a marca de 17,05m. Esta conquista simboliza dois momentos marcantes:
- é a segunda medalha de ouro cubana nesta prova nos Jogos Panamericanos, sendo que a primeira foi conquistada pelo inesquecível Pedro Perez Dueñas que em 1971 saltou 17,40m, estabelecendo novo recorde mundial, a primeira de Cuba no atletismo;
- no intervalo entre estas duas conquistas cubanas estão as medalhas de ouro conquistadas pelo lendário João Carlos de Oliveira (João do Pulo) que em 1975 saltou 17,89m batendo o recorde mundial do próprio Dueñas e em 1979 venceu com a marca de 17,27m.
Reina não teve oportunidade de participar dos Jogos Olímpicos por causa dos boicotes de 1984 e 1988, justamente o período auge da carreira, mesmo acometido por lesões que o deixaram de fora de outras competições importantes. Conforme a entrevista [1], ele lamenta o fato de não ter tido a chance olímpica, principalmente a de 1988 em Seul (Coreia do Sul). Isto porque o melhor ano de sua carreira foi 1989, quando conquistou medalha de prata no Campeonato Mundial Indoor com salto de 17,41m, perdendo apenas para Mike Conley (que havia conquistado medalha de prata na Olimpíada de 1984 e futuro campeão olímpico em 1992) no último salto (17,65m). Também ficou em 2º colocado nos “Juegos de los Ejércitos Amigos”*, atrás do búlgaro Khristo Markov (campeão olímpico em 1988).
O início da década de 1990, começa com problemas mais sérios nos dois joelhos, e assim, finalmente decidiu encerrar a carreira. Ao mesmo tempo, viu surgimento de uma geração formidável de saltadores, a começar por Yoelbi Quesada (bronze, na Olimpíada de 1996), passando por Yoel Garcia (prata, Olimpíada de 2000), Yoandri Betanzos (4º colocado, Olimpíada de 2004), Arnie David Giralt (4º colocado, Olimpíada de 2008). Esta sequência de grandes atletas é conhecida como escola cubana de Salto Triplo, e não há como deixar de mencionar que este reconhecimento começa lá atrás com Dueñas na década de 1970, passando por Reina e seu amigo Lázaro Betancourt na década de 1980.
Radicado no Brasil há alguns anos, ele participou do Campeonato Mundial de Masters de 2013 pelo Brasil, ficando em 4º colocado no Salto Triplo. Participou também de diversos torneios nacionais masters no Brasil, o que tem nos proporcionado outros encontros com esta figura expoente do atletismo. Reina é mais um daqueles amigos que conhecemos através do esporte, e assim, onde quer que esteja, deixo uma recordação daquele nosso primeiro encontro.
*Não há registros sobre estes Jogos na internet, mas suponho que sejam eventos que reuniam países que faziam parte do antigo bloco soviético.

Troféu Brasil Masters 2007: Antônio Carlos, Dilermando, Pessanha, Reina e eu.
Fontes: